domingo, 24 de abril de 2011

No heart, no home

A vontade é partir pra um lugar bem longe e começar tudo de novo. De preferência, um lugar com sol e mar e muitas, muitas cores. Agora sinto necessidade, ne-ces-si-da-de de não ver ninguém conhecido, não conversar as trivialidades de sempre pra evitar os pontos dolorosos que realmente importam. Desse desespero, desse não querer mostrar a cara suja de uma lama que não sai nem com banhos e sais gregos e antigas poções, nasce a vontade de voar pra longe daqui. Mais uma vez.
Vontade de sair pra procurar algo que eu evidentemente ainda não sei o que é. Não seria a primeira jornada e muito menos a primeira frustração. Quem tá confortável respirando-comendo-reproduzindo-morrendo não imagina como dói cruzar um oceano em busca de e não encontrar. É essa insatisfação, esse tumor que cresce em algum lugar da alma e me cria bolhas vazias que não consigo preencher nem com a areia dos desertos de Marraquexe, nem com a neve húngara e nem com o verdadeiro amor. Dei centenas de voltas e ao final o meu único desejo era retornar ao lar. Mas o lar estava diferente e eu mesmo estava diferente. Não tem mais pra onde voltar, ou pra onde ir, ou pra onde nada.
Li uma vez em um ônibus de Dublin que “Home is where our heart is”, e concordo plenamente. Isso no caso de existir home e existir heart em você, meu bem. Mesmo quando você não consegue identificar muito bem o home, porque ele tá embaixo de lodo e cheio daquela sujeira que as pessoas teimam em criar, sempre tem o heart. O heart é a bússola mágica que aponta direto pro sossego, pro conforto, não tem uma música que fala sobre isso?
Mas aí o heart de repente se despedaça em milhões de fragmentos afiados e você se fode. Isso acontece quando a gente tá completamente desprevenido, é como aquela história com os problemas "não adianta se preocupar, as piores coisas acontecerão em uma tarde amena de quinta-feira, quando você menos espera". Não tem maneira melhor de descrever, você se fode mesmo, se fode daquele jeito de ficar na merda e entrar na paranóia do ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de meu amor. Porque, deixa eu te contar um segredinho, o home não existe sem o heart, querido. Você tá acompanhando? O heart constrói o home, se você não tem o heart, você não tem mais porra nenhuma e perceber isso vai te machucar de uma maneira que é difícil de explicar.
Daí, sem bússola, vem aquela necessidade da qual eu falava há pouco, aquela ne-ces-si-da-de de partir pra um lugar bem longe e começar tudo de novo. Patético. Como se eu já não tivesse partido, já não tivesse estado lá e voltado, como se eu já não soubesse exatamente o que me espera.

3 comentários:

  1. Estava aqui pela madrugada de blog em blog, como costumo fazer, e nesse indo entre um e outro encontrei o teu e esse texto me salta os olhos.
    "O heart constrói o home, se você não tem o heart".
    Daí nessa noite despretensiosa de leituras acidentais dei de cara com o abismo em que vivo, sempre procurando por recomeços, a dificuldade em enfrentar probelmas e os ciclos a que estou presa, é verdade amigo, sem heart não tem como se ter o Home, se o coração esta vagando e encoberto de tanta lama, não há como encontrar o caminho a se seguir para o home e, eu pelo menos, sempre acho que vou encontrar nos recomeços, no distanciamento, achando "agora vai ser diferente..." e sempre acabo no mesmo ciclo vicioso e achando que vou recomeçar e seguir uma linha pra algum lugar.
    Bom, já escrevi muito por aqui, mas foi bom esse tapa na madrugada, parabéns pelo blog.

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  2. Obrigado. E olha, o Caio já nos falava que o caminho é in, não out.

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  3. PELO AMOR DE DEUS(desculpa,as vezes sou um pouco exagerada,mas deixa), que texto é esse ? quase uma telepatia... tava aqui na net tentando resgatar meu (ou nao) home, e encontro isso ! me identifiquei muito, muito, muito, muito com cada uma dessas palavras, letra por letra . AMEEI

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