quinta-feira, 28 de abril de 2011

Clarinha,

Não sei se você já sabe, mas tenho um trabalho novo. Acredito que os nossos maiores medos sempre estão de alguma forma relacionados à adequação. Hoje que tô crescido, uma das minhas angústias é não encontrar o meu lugar profissionalmente falando. Palavrinha asquerosa essa, "profissionalmente". Parece coisa daquela gente séria demais, endurecida pelos anos e pela caretice.
Mas eu falava sobre o trabalho novo. É em um museu, olha que simpático. E naquele museu pertinho da nossa casa, aquele cheio de bichos e árvores com mais anos e marcas do que podemos contar. Você não imagina a delícia que é sair da frente do computador pra dar uns tragos no meio da tarde e bater de cara com as cutias-curiosas ou com o passarinho mal-encarado que só quer saber de bicar os fumantes desavisados.
Pois é, hoje fui entrevistar uns pesquisadores que trabalham nos cafundós do estado e estão na cidade. Paleontólogos. Como lembrei de você, Clarinha. Já faz tempo, eu lembro que você queria ser paleontóloga e ficou frustrada porque não existe o curso de "paleontologia" por aqui. Vou te contar uma notícia boa: eles todos são formados em história, e história você pode fazer a hora que quiser. 
Paleontologia. Engraçada essa profissão e engraçado você querê-la ainda tão cedo. Quem sabe você já sabia, a gente já sabia, exatamente onde devia procurar: no que tá acabado, passado, morto. Eu vejo tanto disso em você. Vejo ao encarar os seus olhos tão jovens e cheios de melancolia e tintas negras. Vejo no seu corpo de menina que grita encolhido não se sabe bem pelo quê. Vejo nas suas nostalgias de carnavais com serpentina e fogueira, mar e sol. 
Vejo uma garota que prefere mesmo o escuro das cavernas e a segurança do passado. A Clarinha que se perde em escavações vasculhando a jovem memória de quinze anos e buscando por saudades. Um segredo: os pesquisadores que entrevistei hoje me contaram que a paleontologia é sim uma ciência que estuda o passado, o morto, mas que também serve pra desvendar o futuro. O caminho é mesmo de esburacar o chão em busca do que foi pra construir coisas novas e brilhantes. Então sacode essa poeira e sai, porque as cores são Claras e o mundo é todo teu.

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