terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Explosões

Me colocar naquela situação foi cruelmente doce. Foram dias ensolarados pelas ruas que já me matavam de saudades, dias que passei me preparando pra sentir ausências e angústias no momento em que fosse embora de lá. Foram tantas demoras e partidas, como se as chegadas jamais fossem suficientes; o coração ia apertando a cada dia e hoje no lugar dele tem um vazio que eu talvez já tenha começado a preencher com aquelas velhas coisas que... É como se eu estivesse novamente estático, da mesma maneira que eu estava antes de ir. E isso é inacreditável porque depois de tantas voltas e explosões, como é importante entender a intensidade dessa palavra, explosões dessas de revirar tudo e bagunçar e congelar estômagos e cabeças... Depois de tantas explosões, eu não posso ter voltado pro mesmo lugar. Mesmo que essa cidade quente de uma maneira diametralmente diferente daquela outra cidade quente represente mesmo essa monotonia, eu preciso estar diferente depois de tudo. Mesmo que parado, apático, pelo menos com as coisas aqui dentro reconfiguradas. Com novas razões pra ouvir Bossa Nova e novas maneiras de entender poesia. Aquele show do Chico Buarque aconteceu pra me provar justamente isso, que a cabeça pode desanuviar, que talvez a mão já esteja calejada demais pra continuar socando o prego over and over again. E em seguida veio a embriaguez, nunca me senti tão lúcido, tão pleno. Na verdade, era como se um plano traçado durante toda uma existência, quem sabe a sua existência pra mim?, culminasse ali, e culminou. Culminou na areia, com o morro do Cantagalo parecendo uma peça de natal com todas aquelas luzinhas. Foi ali, precisamente naquele momento, que eu acreditei que as explosões poderiam começar. E elas não pararam, sempre tem pólvora nova e seca pra causar deformidades, que não necessariamente tornam as coisas piores do que estavam antes, compreende? E mudanças sempre trazem novas perspectivas, principalmente quando o que muda é o de dentro da gente. E perspectiva, como todo mundo já está cansado de saber, deságua em frustração. 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

No Disappointments

Foram alguns anos de sonhos. E quando permitimos que os sonhos corram assim, livres, eles voam para os lugares mais bonitos. O que eu quero dizer é que quando a realidade está bloqueada pelos seus mistérios e pela minha própria ignorância, ela não consegue prendê-los, os sonhos. A realidade, na verdade, se converteu em sonho a partir do momento que eu comecei a construí-la. Construí com tanto cuidado e com tanta delicadeza que achava difícil as praias serem assim mesmo tão claras ou os sorrisos tão verdadeiros.
Toda idealização será castigada, diz a razão. Mas, não. As cores não foram mais opacas naquela noite em Ipanema. Todo o mistério do antes, os véus que eu tirava e descobria aos poucos me arrancavam não só suspiros, mas sorrisos e medos também. Porque quando as coisas são bonitas desse jeito, a possibilidade de deixá-las escapar nos aterroriza. Eu segurei o osso como um cachorro faminto, mesmo sem saber exatamente o gosto que ele teria.
Ironicamente, foi durante aquela noite em Ipanema que eu acordei do sonho. Na verdade, foi durante aquela noite em Ipanema que eu percebi que o sonho pode ser realidade. Que não necessariamente o concreto precisa ser aquela coisa cinza, dura e fria que a gente acabou se acostumando. Pode ser que os pés molhados de mar, as mãos sujas de areia e o sol nascendo atrás da gente também sejam verdade. Mesmo que só por cinco dias, nos foi permitido acreditar nisso. 
As cores da realidade durante esses cinco dias foram mesmo intensas, tão intensas quanto nos sonhos. No disappointments. E como isso tem sentido em uma existência como a minha, como acreditar me torna mais forte e como isso tudo foi a minha maior motivação pra simplesmente continuar acreditando. E mesmo quando os dias de sol na praia davam lugar às paredes de um prédio na zona sul, as explosões continuavam e os sorrisos permaneciam ali congelados e me aquecendo. Amanhã eu entro em um avião que me leva de volta pra rotina, pros problemas, que vai me levar pra longe do mar e do nascer do sol. Mas uma coisa a gente não perde, essa capacidade de continuar sonhando, entende? E esses dias de sol me provaram que o sonho que a gente constrói pode muito bem ser de verdade. A gente só precisa dar o espaço devido aqui dentro pra que eles possam crescer.