Pela primeira vez em inúmeras viagens de avião, ontem eu vi a lua de cima das nuvens. Talvez nem ela mesma compreendesse a verdade que havia ali em cima, longe de tanta interferência e materialidade. Porque o que importa mesmo é etéreo, energético, o que importa é a luz.
Lá de cima, é possível ver a Lua mais perto e de certa forma isso a despe de vaidade. Não há mais véus, cores, não há mais nuvens entre nós. Assim despida, ela parece que resolve devassar suas fraquezas, e é precisamente isso que a torna mais misteriosa. Só quando a gente conhece alguma coisa bem de perto, cada cratera e cada curva, é que a gente consegue ver o mais fundo. É como se você lavasse a cara suja com maquiagem de ontem, expulsasse as tintas e a ressaca e se expusesse.
Deixe que saibam que a luz na verdade não é sua, mas você a pega emprestada todas as noites pra que possa brilhar. E como você brilha, correndo solta por aí iluminando vários caminhos. Mas pela manhã, é hora de recolher os balangandãs e repousar.
É mais ou menos isso que eu quero dizer, esse lance da luz. Não interprete mal, a Lua não rouba a luz. Ela empresta. Na verdade, é como se a gente dividisse a nossa luz com ela, compreende? Porque a gente sabe que uma faísca já faz com que a Lua ilumine uma noite, uma vida inteira quem sabe.
Claro que nem todos os dias ela está devidamente alinhada, e às vezes míngua. E ela tem consciência disso. Ela dilacera isso. Ela cai abaixo das nuvens, abaixo do mar, rola pela lama, vai no mais fundo, abaixo de. E nesses momentos que a Lua precisa que a gente empreste um pouco do brilho a ela, a gente se recolhe. Porque parece que nos acostumamos a sorrir sob a luz que ela nos dá noite-após-noite, nos acostumamos a dançar despreocupados.
Luz noturna. Quando ela está lá no fundo, está novamente despida, do mesmo jeito que está despida quando a gente voa acima das nuvens. Sem orgulhos ou vaidades, só a Lua. A Lua rodeada de suas estrelas coloridas caindo pelos ombros. Brilhando agora com uma luz negra que não expõe, mas acolhe a gente e coloca pra ninar. Nos livra dos olhos cruéis do mundo e não julga, mas aceita no momento preciso. Luz negra que parece mais segura que a manhã mais ensolarada, que mostra mais da gente mesmo do que a gente conseguiria refletir no espelho mais claro, que nos abraça e conforta mais que. Lua que nos coloca debaixo da asa, lá acima das nuvens, sem nem ter muita certeza da razão pela qual está fazendo isso. Mas faz.
queria poder te mandar subir, fumar um cigarro e te colocar debaixo dos braços. Que coisa linda, tomi.
ResponderExcluirObrigada por tudo e ainda mais por sempre estar, sentir e me ver.