quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A Lua e suas estrelas coloridas derramadas pelo ombro

Pela primeira vez em inúmeras viagens de avião, ontem eu vi a lua de cima das nuvens. Talvez nem ela mesma compreendesse a verdade que havia ali em cima, longe de tanta interferência e materialidade. Porque o que importa mesmo é etéreo, energético, o que importa é a luz. 
Lá de cima, é possível ver a Lua mais perto e de certa forma isso a despe de vaidade. Não há mais véus, cores, não há mais nuvens entre nós. Assim despida, ela parece que resolve devassar suas fraquezas, e é precisamente isso que a torna mais misteriosa. Só quando a gente conhece alguma coisa bem de perto, cada cratera e cada curva, é que a gente consegue ver o mais fundo. É como se você lavasse a cara suja com maquiagem de ontem, expulsasse as tintas e a ressaca e se expusesse. 
Deixe que saibam que a luz na verdade não é sua, mas você a pega emprestada todas as noites pra que possa brilhar. E como você brilha, correndo solta por aí iluminando vários caminhos. Mas pela manhã, é hora de recolher os balangandãs e repousar.
É mais ou menos isso que eu quero dizer, esse lance da luz. Não interprete mal, a Lua não rouba a luz. Ela empresta. Na verdade, é como se a gente dividisse a nossa luz com ela, compreende? Porque a gente sabe que uma faísca já faz com que a Lua ilumine uma noite, uma vida inteira quem sabe.
Claro que nem todos os dias ela está devidamente alinhada, e às vezes míngua. E ela tem consciência disso. Ela dilacera isso. Ela cai abaixo das nuvens, abaixo do mar, rola pela lama, vai no mais fundo, abaixo de. E nesses momentos que a Lua precisa que a gente empreste um pouco do brilho a ela, a gente se recolhe. Porque parece que nos acostumamos a sorrir sob a luz que ela nos dá noite-após-noite, nos acostumamos a dançar despreocupados.  
Luz noturna. Quando ela está lá no fundo, está novamente despida, do mesmo jeito que está despida quando a gente voa acima das nuvens. Sem orgulhos ou vaidades, só a Lua. A Lua rodeada de suas estrelas coloridas caindo pelos ombros. Brilhando agora com uma luz negra que não expõe, mas acolhe a gente e coloca pra ninar. Nos livra dos olhos cruéis do mundo e não julga, mas aceita no momento preciso. Luz negra que parece mais segura que a manhã mais ensolarada, que mostra mais da gente mesmo do que a gente conseguiria refletir no espelho mais claro, que nos abraça e conforta mais que. Lua que nos coloca debaixo da asa, lá acima das nuvens, sem nem ter muita certeza da razão pela qual está fazendo isso. Mas faz.


Um comentário:

  1. queria poder te mandar subir, fumar um cigarro e te colocar debaixo dos braços. Que coisa linda, tomi.
    Obrigada por tudo e ainda mais por sempre estar, sentir e me ver.

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