quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Quando o tapa-buraco vira o próprio buraco

Hoje eu não recebi uma mensagem. Já percebeu como às vezes essa ausência das coisas é mais fácil de sentir do que as presenças em volta da gente? Mas vamos à mensagem - ou à falta dela. Hoje deu pra perceber que essa falta chegou a roçar em algum lugar mais embaixo do que eu pensava que poderia chegar. Porque a idéia era que essas mensagens que você manda tivessem leveza, entende? Que os alertas no celular chamassem a minha atenção, mas não a prendessem. Porque eu tô em um momento que preciso de coisas-leves-que-me-chamem-a-atenção-mas-não-a-prendam, senão a minha cabeça se concentra inteira no feio, pesado e fundo.
Se não houver as suas mensagens, eu vou entrar no escuro. Sei que vou porque eu já estive lá várias vezes. O escuro é um buraco. O Caio já falou sobre o perigo que é a gente entrar nessas, no "poço do poço". Primeiro a gente estranha, mas depois a gente se acostuma com o limo e com a sujeira. E de verdade, a gente acaba gostando de tudo que se forma no buraco ou no poço. Mesmo com a baixa luminosidade, mesmo sem o ar, a gente não deixa que as coisas que estão lá no fundo morram. A gente cultiva a sujeira e não permite que as coisas voltem a brilhar.
Pois é, é nesse buraco que eu tô metido e é dele que eu imaginava que você poderia me tirar. Mas não me tirar pra gente cavar outro buraco, e sim pra eu simplesmente ficar na superfície. No máximo, pra gente ficar na superfície. Lembra daquilo que eu falava no começo, da leveza?
E as coisas estão acontecendo da maneira certa. Eu encontrei um braço pra me tirar do buraco e me ajudar a tapá-lo. Você chegou aqui pra isso, não foi? Pra que eu conseguisse enterrar as sujeiras - e mesmo as belezas - do buraco. Porque sozinho, eu só ficaria contemplando isso tudo over and over again.
Só que hoje a ausência me fez perceber que a gente tá indo pro fundo. Talvez eu nem tenha chegado à superfície, talvez eu esteja cavando lateralmente ainda dentro do buraco, ainda com os cheiros do buraco, ainda com a umidade do buraco. Só que agora o buraco é menor. Ou está menor, porque quando a gente começa a cavar, é impossível prever até onde a coisa vai. E um buraco menor, você deve saber, é muito mais fácil de organizar. É muito mais fácil administrar os problemas e as ausências de buracos pequenos. Mesmo que eles continuem, apesar do tamanho, sendo o que são: buracos.

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