sexta-feira, 13 de maio de 2011

Disparo

Chega uma idade e a gente parece que se encontra em um plano cartesiano onde somos a reta-distância-mais-curta-entre-dois-pontos que precisa estar ascendente-pra-sempre sem tempo de cair – seja de tristeza, de dor ou de porre mesmo – porque afinal somos adultos responsáveis e pelo amor de Deus coloque essa cabeça no lugar senão você vai. Mas eu não quero já são vinte-e-um-anos-agora e quer saber o que mais eu não fazia a menor questão de entrar nessa paranóia de procurar concurso público e virar as madrugadas trabalhando e ganhar muito dinheiro porque afinal já são vinte e um e eu preciso sair de casa e arrumar um lugar pra morar ser independente enfim tomar rumo você sabe. A partir de agora somos eu e você e o que a gente conseguir construir juntos nem que pra isso seja preciso nunca mais rolar escada abaixo feliz porque essa noite você já nem cabe mais dentro de si nunca mais cabelos coloridos nunca mais pintar fora dos limites nunca mais sonhar em ser feliz nunca mais. Daí você se prende e se amarra na superfície gritando seco – às vezes a voz sai – implorando pra não te tirarem de lá mas as pessoas são assim mesmo elas querem te apresentar a maturidade a independência o progresso a felicidade e te puxam pra luz pro mundo real tiram a mamadeira da sua boca te levam pra longe daqui olha que orgulho você vai dar mas tira esse all star velho e as calças vermelhas porque você já não é mais criança quantas vezes eu vou precisar dizer? Mas eu ainda mantenho alguns momentos meus vez em quando escondido eu pinto a cara e brinco que não tenho responsabilidades nem medos só que dura pouco e sempre acabo pegando no sono não antes daquele quarto de hora com pensamentos só nossos em que consigo entender que só é possível crescer pra cima amputando os braços, as pernas e as asas que cresciam nas laterais.

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