domingo, 8 de abril de 2012

Sobre respingos e um herói

Aquele momento na hora do porre em que todos os fluidos misturados no estômago querem ganhar a liberdade novamente. Mas você precisa mantê-los ali pelo menos até conseguir chegar a um lugar seguro, onde os pedaços grossos do vômito caindo no chão não respinguem pra sujar a sua cara estragada por todas essas noites desesperadas.
Você sente medo. É preciso segurar os líquidos aqui dentro, contidos até o momento exato. Só que eles começam a apodrecer e a cheirar mal, afinal dentro do seu de dentro não é precisamente o lugar mais limpo e claro do mundo. São tantas mágoas afogadas em tantas bebidas fortes e tantos cigarros que aquilo tudo vira uma ferida infeccionada e a dor é difícil de segurar. Você precisa colocar tudo isso pra fora. 
Só que tem aquilo, os pingos. É como se no momento eu estivesse sentindo essa vertigem em frente a um espelho e ceder às tentações da náusea iria jogar o vômito todo na minha própria cara.
É preciso esperar. Esperar o momento exato, quando tudo estiver limpo e a distância não for mais entre nós dois, mas seja entre mim e mim. Só que é irônico como ao mesmo tempo em que eu espero a sua mão pra segurar a minha cabeça na privada imunda, também imagino o nojo que você vai sentir. O seu desprezo me apavora e eu chego a pensar que se for pro nosso bem, eu seria mesmo capaz de segurar esse vômito aqui dentro pra sempre e deixá-lo apodrecer e me corroer e se tornar tumor e me matar. Se isso for te fazer feliz, eu consigo. 
Consigo aceitar que você transfira os seus próprios fluidos odorosos pela minha boca, garganta e os deposite escondidos naqueles lugares lá dentro que eu penso em nunca te mostrar, por mais que me matem. Parece virtuoso colocado dessa maneira, e eu acho que de fato é. Agora as noites insones estão acabando e eu já começo a me perguntar até quando vou conseguir brincar de herói pra salvar a gente de ti.

Um comentário:

  1. To me identificando com uma profundidade tão doida que às vezes fico pensando se é porque somos sagitarianos ou se é só a saudade se fazendo traduzir em linhas que só os tristes entendem.

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